segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Improviso

O que vou escrever agora será digitado em sequencia, sem pensar, ou elaborar, que seja digno de uma, ao menos, rápido leitura.

A pele macia gostou do carinho recebido pela massagem da mão, misturado à agua e sabão (daqueles bem enjoados).
Para o deleite de quem pudesse estar observando aquela cena, no caso eu (mero narrador), a moça era ciente de sua exuberância. As pernas torneadas, as coxas firmes, a barriga ainda que não definida, absolutamente em forma. Os seios, bem que poderia descreve-los, mas vou guardar esse detalhe para mim somente.
Por pura desfaçatez ou para me causar agonia ao digitar as palavras, a danada, desligou a água quente e deixou aquela água gelada a invadir por completo, o arrepio sentido por todos os poros, a curvatura das costas como querendo escapar da punição que ela mesmo procurou, era deliciosamente contraditória.
Do outro lado da cidade, a calça jeans, suja do sorvete da noite anterior foi colocada rispidamente sobre a pele, a camisa branca compôs o visual desleixado que a barba por fazer confirmava.
A moça colocou a sandália nos pés desnudos, a calcinha de algodão combinava perfeitamente com o vestido florido.
O calor na cidade era infernal, o homem reclamava do trânsito e o suor caia por seu rosto já em exagero suado. Aquelas três pessoas uma em cada ponto da cidade teriam seus destinos cruzados em pouco tempo e o que se abaterá sobre elas, este narrador ainda não decidiu. Se a tragédia, compaixão, paixão ou desamor.
A paciência e alegria da moça ainda que estivesse com o astral nas estrelas começou a desmoronar. O elevador sem razão aparente simplesmente se recusava a chegar.
Depois de 15 minutos esperando, resolveu tomar uma atitude e descer as escadas, desceu um dois, três andares....
O rapaz da calça suja mal acreditou quando deu a partida e seu velho carro funcionou de primeira. Hoje é meu dia de sorte, vociferou em alegria, por tão pouco.
A cada 50 metros o homem olhava para o banco de trás e via que a maleta ainda estava lá. O suor mais do que obra do calor era obra do conteúdo daquela mala, milhares de reais desviados, surrupiados, e que garantiriam seu futuro.
E como na música do Chico Buarque todos estavam ali fazendo parte daquele cenário, esperando a banda passar. Até a moça feia, imaginou que o rapaz no carro velho para ela poderia ter interesse.
A moça antes tão alegre a faceira, estava já emburrada e desanimada. No andar abaixo, o elevador estava descaradamente preso, por um vizinho folgado, que ainda foi grosso com ela.
Os desejos e planos que ela tinha para o dia estavam indo literalmente por água abaixo, soube disso quando seu pé sentiu a água tocar seus dedos na sandália desprotegida.
A chuva caia torrencial.
O rapaz passava a mão fortemente no vidro com um papel qualquer tentando desembaçar, janela fechada, sem ar condicionado e para brisa sem funcionar.
O ônibus veio pela avenida no recém corredor criado para ele, e o motorista sequer percebeu o carro que passava pelo cruzamento, o impacto foi tão violento que o corpo foi jogado pela janela sendo arremessado longe.
O grito da jovem foi ouvido. O sangue respirava pela água, pelo cimento e se imiscuía por entre seus dedos. A expressão do homem a seus pés a fez ajoelhar.
A mão trêmula segurou a vida que se perdia ao ver de seus olhos. O homem a puxou com toda força, sua ultima, e no seu ouvido, a palavra úmida, foi dita:
- A Maleta, pegue a maleta. Disse apontando para seu carro ao longe.
O rapaz diminuiu a velocidade ao por entre a fresta que seu vidro lhe permitia enxergar, ver o ônibus parado e um carro batido virado no sentido contrário.
A moça quase em choque, foi até o carro do homem, e esgueirando o corpo, puxou a maleta do banco de trás.
Na chuva, sem testemunhas, um homem acabou por tirar a vida já quase perdida. O tiro certeiro na testa.
A moça ignorante ao fato, iria voltar até lá, o rapaz, gritou surdamente de seu carro.
- Não!
Acelerou e cruzando a frente da moça, abriu a porta e disse:
- Entra.

De noite a noticia da morte do homem que houvera desviado dinheiro de uma organização e de uma moça misteriosa segundo relatos do motorista do ônibus eram destaque.

Um casal recém formado, do qual somente uma calça suja de sorvete e um vestido sujo de sangue sabiam da existência, de mãos dadas, trocava olhares apaixonados.

A maleta ainda fechada repousava quieta e provocadora.


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