Esse acho que foi um dos primeiros contos que escrevi...Todos temos algo do que nos envergonhar....rs....Obs: Não bebo cerveja
Bar do Antunes
A mulherada hoje em dia está uma
loucura, enquanto, nós homens, pensamos ser os caçadores, nada mais somos do
que presas, a espera de que elas nos escolham, olhem para nós e digam: Quero
você!!!!
Antônio, eu no caso, não sou
muito de me reunir com os amigos depois do expediente para o famoso happy hour,
mas, o calor dos últimos dias me forçou a participar do que chamo de reunião de
desocupados de plantão. Calma!!! Explico, tanto eu como meus amigos
desocupados, temos trabalho, alguns tem família e uns poucos, inclusive,
responsabilidade.
Mas deve existir (claro que
existe) coisa melhor do que ficar num barzinho apinhado de gente, sendo mal
servido e tomando cerveja quente ou chope mal tirado. E os papos então!!!!
Invariavelmente acaba em pelada, ou seja, só se fala de futebol e mulher.
Novamente, antes que o leitor me ache uma aberração, informo que adoro bater
minha bolinha e assistir meu futebolzinho de Domingo, de preferência com uma
loira gelada (a cerveja) e uma peladinha me acompanhando (isso mesmo, nuinha em
pelo).
Voltando ao meu relato, vivo me
perdendo em minhas próprias idéias, estou eu no Bar do Antunes, esperando pela
minha cervejinha e beliscando de leve aquela batatinha já fria, quando ao olhar
pelo lado vejo aquela mulher, quase moça, me encarando, olho para os lados,
como se tentando provar a mim mesmo que foi apenas um olhar cruzado.
Meu amigo, está a conversar
comigo, vejo sua boca se mexer, mas não escuto absolutamente nada, estou
bebendo minha cerveja, que neste momento está bem menos gelada do que deveria,
presumo.
Fico a encarar aquela mulher,
ela bebe uma coca-cola, me perdoem as outras mulheres, mas acho muito sexy, uma
mulher bebendo coca-cola do que cerveja. Ela é terrível, percebeu que caí em
sua armadilha ocular, bebe o refrigerante com displicência, como se estivesse
brincando, o gelo que vem a seguir é chupado com classe e depois devolvido ao
copo. Não, não é nojento, estivessem vocês a vendo com meus olhos, estariam
babando, como devo estar. O gelo vai e volta, passeia naquela boca, ora
desejada, a língua dela é uma sinfonia de Beethoven, rápida, envolvente e o faz
viajar.
Em minha viagem só coube eu,
ela, e um ou mais pedacinhos de gelo, imagino o estrago que aquela boca não
faria, ao ter aquele pensamento, cometi um crime, sem culpa é verdade, e me vi
cerceado em minha liberdade, já não mais podia ir e vir, sem ser alvo de
olhares indiscretos.
Meu dilema, como deve acontecer
com a maioria dos leitores que já passaram por essa situação, era: Devo agir ?
Fico aqui me deliciando com esse
joguinho sensual, ou vou até a mesa dela e aplico o charme que penso que tenho,
ou a cara de pau dos termos da adolescência. O que você faria ?
Bom, no meio de minha indecisão,
sou tirado do transe, pelo cutucão de meu amigo, João, que queria minha opinião
abalizada, segundo ele, sobre uma discussão acalorada que travava com Pedro.
Falei algo para João que em
verdade nem me recordo. Levantei da mesa, estufei o peito e iniciei a
travessia.
Porém, caro leitor, como na
maioria das vezes, algo nos surpreende. Ainda no início de minha travessia,
refreei meus impulsos, ao ver minha eventual conquista ser beijada por um cara
que apareceu do nada, como se estivesse na espreita para a defesa da presa.
A volta à mesa era inevitável, porém
para salvar minha dignidade, que queria intacta, me pus a reclamar com o garçom
que por ali passava, das cervejas quentes e das batatas frias. Devia ocorrer o
inverso.
Ao retornar ao meu lugar cativo,
fui recebido por João e Pedro, que me contaram, de novo (?) a história a ser
resolvida, a final, segundo meu entender João estava com a razão. A pendência
amigável me fez esquecer por alguns instantes o porque de eu ainda estar
naquele bar.
Olhei para a traidora, como que
por desencargo, ela estava sozinha, tinha uma amiga por perto, mas o
beijoqueiro não mais fazia parte do cenário.
Fiz o que me restava na
tentativa de salvar o orgulho de macho, dei aquele olhar de despedida, que para
minha surpresa foi acolhido, estava de novo no jogo, pensei. O sorriso era doce
e sensual, ela encolheu os ombros e de seus lábios vermelhos captei a mensagem:
desculpa, é meu namorado.
Veja leitor se é possível ? Ela
me pediu desculpas, fiquei lisonjeado com a atenção e dei uma piscada, parecia
que nos entendíamos de novo, quando, então, desgraçadamente, a ave de rapina
ressurgiu das cinzas, pagou a conta e a puxou pelo braço, ela iria embora.
Ela se foi, com ele, é verdade, mas não antes de receber um beijo
enviado com minhas mãos, quando olhou para trás, com aquele sorriso provocante.
- î, olha o cara. - falou João
ao perceber, finalmente, o que me prendia até aquele momento, já que era de se
estranhar a minha presença por tanto tempo.
Nem preciso falar que minha
história passou a ser o centro principal do bate-papo, e a conversa que se
passou, fez com que as batatas não parecessem tão frias e a cerveja nem tão
quente. Passei a freqüentar o Bar do Antunes regularmente (podem acreditar), e
como freguês habitual passei a ter cerveja gelada e batatas crocantes. (acreditem
de novo)
Não sei quanto a vocês caros
leitores, mas, é bem melhor ser o escolhido não é ? E quanto a minha, ou
melhor, nossa paquera, algum tempo depois, a encontrei novamente. Ela ainda
possuía aquele olhar ávido e sensual e os lábios molhados de gelo, mas isso
fica para outro dia.
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