Aí vai....
Banho Doce
O
corpo já demonstrava o cansaço do dia.....desde a manhã ela andou, correu,
falou ao telefone, aturou e suportou pessoas que de uma forma ou de outra
cruzaram o seu caminho.
O
sol já se punha, aquele céu alaranjado contrastava com a fumaça dos caminhões e
dos ônibus que levavam as pessoas para casa, mas não ela. Ela em seu carro,
ouvia uma música que a transportava para uma outra dimensão...
Um
leve arrepio na altura da nuca...A moça sentiu-se desprotegida em plena Avenida
Paulista, quem ou o que lhe dava a sensação de percorrer seu corpo? Ajeitou-se no banco, apertou o volante com
força e se deixou levar por aquela sensação estranha, intrigante, sensual,
enfim deliciosa.
O
trânsito teimava em conspirar contra a necessidade que a consumia, um simples
banho a faria feliz, fechou os olhos e foi quase possível sentir a água
viajando pelos seus poros, pelos, em toda a sua extensão...
De
súbito, foi acordada de seu transe, ao olhar para o retrovisor, quase sorriu,
porém conteve seu desejo, com receio da multidão que se postava atrás,
indignada com aquela mocinha que despretensiosamente ousava em ficar parada em
plena Sexta-feira com o sinal verde se oferecendo.
Ao
descer do seu carro, esticou os braços, as pernas involuntariamente se
contorceram, o estalar dos dedos foi um reflexo natural. A pressa que tivera
até então, foi substituída por uma quase inércia. Antes era impedida de chegar
a seu descanso, agora que ele chegara, parecia tão fácil dele usufruir, que só
de birra, passou a criar obstáculos para ele, numa criancice sem precedentes...
passou a divertir-se com o carro, as mãos suavemente fecharam os vidros, as
pernas num leve toque fecharam a porta, pensou em algo ousado, mas já perdera a
graça.
A
geladeira foi o primeiro alvo de sua desforra, o suco de laranja foi sugado em
segundos, o excesso que escorreu em sua boca, blusa, nem foi levado em
consideração, tamanho o prazer que ele, o suco, lhe estava proporcionando.
As
roupas eram sem nenhuma preocupação, atiradas ao chão, antes escolhidas a dedo
em lojas de grife, hoje somente lhe restavam o azulejo frio da cozinha, o
carpete da sala, o braço da escada, a peça última, privilegiada que foi, teve a
maciez da cama como alento.
O
barulho da água tocando o chão...o leve respingo em seu rosto....A moça em fim,
estava prestes a entrar na dimensão que tanto sonhara. Enquanto a banheira era
devidamente preenchida com a água em sua temperatura ideal e enriquecida com
sais, florais e outros que tais....A moça deixou-se jogar para dentro do chuveiro,
da primeira gota a molhar-lhe a testa até as demais incontáveis gotas se
apossarem de todo o seu ser, passaram-se segundos, décimos até, mas para, ela,
somente ela, o tempo parou, congelou. Só era possível sentir a pele esfriar, o
corpo relaxar, os cabelos aloirados molharam-se. E, como bela ela estava,
molhada, livre, entregue por completo. Quantos homens, senão todos que possam
assim ser considerados, não dariam tudo para serem reduzidos a um milímetro
entre milhões de metros cúbicos de água por aí espalhados.
Nem uma bomba atômica teria igual efeito
devastador, aquele pequeno aparelho estridente, era responsável por um
verdadeiro crime, ou melhor dois, o primeiro era tirar aquela moça de um estado
antes nunca experimentado, o segundo era para quem quer ou o que estivesse a
seu redor, ver aquela mulher, aquele corpo, se cobrir, mesmo que parcialmente
pela toalha, que chata, estava, aonde infelizmente, deveria estar.
A
indignação era patente.
-
Como pode ? me tirar do banho, para isso ? - disse brava, em voz alta, mas sem
repartir o conteúdo da conversa, com nós pobres mortais que a acompanham em sua
trajetória.
O
telefone, antes odiado, foi o responsável por salvar seu meigo apartamento de
ser inundado, a banheira já estava prestes a transbordar, a espuma, tocava o
teto....- puro exagero do narrador- ....Sua mão, procurou por entre a água e
espuma a torneira, enfim a achou.
Livrou-se
da toalha (os aplausos inaudíveis ecoaram pela casa). Ah, mas que perfeição...
se ateu fosse, naquele ato me converteria, somente um ente chamado de Deus,
poderia criar algo tão belo.... Frágil e poderosa, suave e forte, contradições
ininteligíveis mas absurdamente apaixonantes.
A
medida em que seu pé foi engolido pela espuma, sua mente antecipava as horas de
incontrolável relaxamento que estavam por vir...As coxas, as pernas,
tudo.....foi sumindo à medida que ela ia se deitando na banheira....Com o corpo
já todo coberto, esgueirou-se e ligou a hidromassagem. Nem Cristo a tiraria
dali.
A
música que vinha do rádio, do quarto, ajudava-a a viajar, seus pensamentos eram
vários e nenhum ao mesmo tempo....
Mordia
de vez em quando o Croissant que esperta que era, trouxera para lhe fazer
companhia....O seu corpo exigiu, e ela cedeu, uma mudança de posicionamento se
fazia necessária, mesmo completamente apolítica, nada mais lhe restava do que
apoiar a esquerda e para lá dirigir seus esforços.
De
repente, não mais do que de repente, no meio dessa mudança de partido, sentiu
algo inesperado, aquele arrepio que sentira horas antes na Avenida Paulista, se
repetira, só que com maior intensidade...
Um
barulho, igualmente inesperado, veio do andar de baixo, pensou em levantar, mas
o medo, a tensão, o relaxamento e a própria imaginação de imaginar o fato de
ser observada, nua, totalmente indefesa, a deteve.
O
arrepio teimava em queimar-lhe a nuca....Estaria a água muito quente ? Com
medo, talvez, fechou os olhos....
Seus
lábios secos, molharam-se com sua própria língua....abriu os olhos, e realizou
que não era verdadeira tal assertiva, um homem, estava a lhe beijar, ficou
ofegante, as palavras não saíam de sua boca....sua cabeça estava a mil por
hora, mas estava incapaz, de se defender, falar, agir, somente olhava, e
principalmente sentia....
O
homem entrou na banheira, a água escorria pelo chão, os corpos se tocaram
embaixo da água...a moça não mais se continha...o beijo...era cada vez mais
forte, quente, avassalador. O arrepio agora tomava conta do corpo inteiro...Os
seus seios eram tocados, de uma forma carinhosa, suave, feminina, como se o
fossem por uma mulher....
O
aparelho estridente novamente voltou a estrilar...os movimentos passaram a ser
rápidos...frenéticos...a respiração ofegante....Ou atendia aquele objeto ora
odiado, ora nem tanto, ou ali ficava,
sentindo.... A segunda opção ganhou por votação unânime.
Os
olhos abriram, a moça assustou-se, ao ver-se com as pernas entreabertas, a água
a pressionar-lhe...suas mãos em seus seios....apesar de estar tomando banho,
estava suada......Um sonho...apenas....mas que sonho!!!....Nunca tivera uma
experiência sensorial assim tão forte, real, e com efeitos tão vibrantes em seu
corpo.
O
telefone que a despertara, parou de tocar....Respirou fundo, endireitou-se
dentro da banheira e deu uma mordida, no croissant, agora de chocolate, e ligou
para uma amiga, precisava repartir aquela experiência....
- Oi,
sou eu. - disse para a amiga, e completou - Você precisa saber o que aconteceu
no meu banho, - e olhando para o croissant falou. - no meu banho doce.....doce
banho
Nenhum comentário:
Postar um comentário